Nas minhas razões para esta candidatura também está a Pina, estão os cravos, está o ritmo quente da mazurka e está a loucura e a cacofonia de Palermo. Está o desespero do sonho acordado de Café Müller. Há em mim um antes e um depois de Pina. Há em mim uma consciência do mundo antes e depois de Nelken; com ela descobri intensidade e beleza na humanidade, nos corpos, em nós, descobri cidades.
Em 2005, vi pela primeira vez o trabalho de Pina, ao vivo, no palco imenso do Saddler’s Wells coberto de cravos. Nessa noite (e na seguinte) percebi toda a dança que tinha visto até então. Em 2008 pude ver mais e conhecê-la. Um ser tão frágil quanto intenso, alguém que dispunha de cada minuto como se fosse o último e, ainda assim, tinha largos minutos para quem com ela se cruzava.
Vejo a Cultura e a(s) Política(s) Cultural(is) como algo de fundamental e de estruturante para o ser humano e para a sociedade. A Cultura porque nos dá formas e mecanismos de ler (e escrever) o mundo; as Políticas Culturais porque instrumento-cenário que possibilita o contacto e o domínio dessas linguagens.
São estas as premissas que dão o mote ao trabalho a desenvolver em Portalegre (razões II). É preciso desenvolver um trabalho que possibilite o cruzamento dos públicos da cidade com ‘Pinas’; que possibilite a descoberta de novas leituras e o domínio de novas linguagens. Que possibilite o deslumbre, a descoberta, a ludicidade e o prazer.
(Post escrito na tarde em que Pina Bausch morreu, 30 de Junho 2009.)
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